Formalização faz microempreendedores faturarem mais
Dos dez primeiros empresários do Estado de São Paulo que viraram empreendedores individuais, oito continuam a tocar um negócio próprio formalizados. Todos eles viraram pessoas jurídicas em julho de 2009.
Segundo os pioneiros na política pública, que prevê redução da burocracia e de tributos aos que se cadastram no Ministério do Desenvolvimento, o programa fez com que eles aumentassem os lucros e conquistassem mercados antes inacessíveis.
Ao se registrarem como pessoa jurídica, os MEI (microempreendedores individuais) podem emitir nota fiscal e negociar melhores preços com fornecedores.
Pesquisa recente feita pelo Sebrae (Serviço Nacional de Apoio à Micro e Pequena Empresa) aponta que 56% dos MEIs acham que o melhor benefício de obter o registro é o acesso ao mercado.
Cecilia Baruel abriu uma empresa empreendedora individual em janeiroe já vai ter que mudar
Segundo o presidente do Sebrae nacional, Luiz Barretto, pensava-se que ter acesso aos benefícios do INSS seria o principal chamariz para os empreendedores, mas na pesquisa verificou-se que a “cidadania empresarial“ foi o atrativo de destaque.
PONTO DE PARTIDA
Entre os dez primeiros, nove eram empresários informais antes da entrada no programa. Atualmente, não é só esse tipo de gente que busca o registro.
Cecilia Baruel, 46, optou pelo modelo MEI para não ter de investir muito na fase inicial do negócio.
Baruel produz e vende alimentos para cães, em substituição à ração. Ela usa ingredientes como peito de frango e arroz integral e cobra até R$ 13,50 por refeição canina.
A empresa começou sua atividade em janeiro. “Foi um teste.“ O negócio surpreendeu e já faturou mais do que R$ 60 mil ao ano, teto permitido pelo programa.
Assim que mudar de categoria e passar a funcionar como microempresa, ela irá contratar seis pessoas. Atualmente, só tem uma funcionária, que é o que a lei permite.
Outro que deve mudar o contrato social é Luiz Maia, 49, que abriu em fevereiro sua empresa de reformas e manutenção em prédios. Ele diz que vai se tornar uma microempresa para ser franqueador de outros empreendedores individuais. “Vou vender para o Brasil inteiro.“
Executivos trocam grandes firmas por desafio e liberdade das menores
Boa remuneração, muitos benefícios e até status profissional são alguns dos motivos que fazem das grandes companhias o objeto de desejo de muitos profissionais.
Salários crescem mais nas micro e pequenas empresas
Mas trabalhar em micro, pequena ou média empresa pode ter muitas vantagens, até em termos salariais.
No caso da carioca formada em publicidade e marketing Rose Silva Machado, 39, foi o desafio que trouxe a mudança de escala.
No início do ano ela deixou o cargo de gerente de contas da operadora Vivo para assumir o posto de diretora comercial da Luxo Embalado, uma pequena importadora recém-criada no Rio de Janeiro.
“Quando recebi o convite, percebi que era uma oportunidade de me desafiar e pôr em prática tudo o que sabia.“
A possibilidade de crescimento profissional e a liberdade de trabalho foram os maiores estímulos para que Rose aceitasse a mudança, já que a remuneração ficou no mesmo patamar.
“Nas grandes empresas, há pouco espaço para desafios pessoais. É sempre a mesma receita de bolo, a mesma cartilha a ser seguida“, afirma a executiva.
MÃO NA MASSA
Entre as vantagens de trabalhar em empresa menor estão a possibilidade de colocar em prática novas ideias, encarar desafios mais estimulantes e conseguir uma rápida ascensão na empresa.
É o que afirma a consultora organizacional Yara Cunha.
“Empresas menores precisam de constante desenvolvimento, por isso oferecem mais oportunidades de realização. Sempre haverá aprendizado, desafios e a chance de uma boa carreira.“
Yara lembra que no passado existia algum preconceito: profissionais mais capacitados relutavam em trabalhar em pequenas empresas.
Mas isso vem mudando em virtude do processo de modernização pelo qual passam muitas dessas empresas, que buscam aprimorar seus processos de gestão.
“Até empresas familiares, muito comuns nesse segmento, têm investido na profissionalização de seus quadros. Surge daí uma nova demanda por líderes e profissionais capacitados“, avalia.
Foi por sentir falta de novos desafios que o engenheiro e administrador de empresas Carlos Carnevali Jr., 36, de São Paulo, deixou para trás o posto de diretor comercial para setor financeiro da Cisco Systems, em 2008.
“Embora eu estivesse numa ótima empresa, sentia que estava sempre fazendo mais do mesmo. Sentia falta de ter experiências mais amplas.“
Atualmente, Carnevali exerce o cargo de diretor-executivo em uma empresa de médio porte, que atua no mercado de TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação).
“Numa grande corporação, mesmo um executivo acaba se tornando apenas mais uma peça da lenta engrenagem. Aqui posso ver o resultado efetivo do meu trabalho e a relevância dele para a empresa“, afirma Carnevali.
Financeiramente, a troca também foi vantajosa. Carlos afirma que, na soma de bônus e participações, sua remuneração chegou a aumentar cerca de 30%.
Salários crescem mais nas micro e pequenas empresas
Antes facilmente “trocadas“ pelas grandes companhias, as micro e pequenas empresas já conseguem atrair e reter bons e promissores talentos. Segundo Yara Cunha, consultora organizacional, isso é resultado de aplicações de modernas práticas na gestão de recursos humanos.
Executivos trocam grandes firmas por desafio e liberdade das menores
“Muitas pequenas empresas já investem seriamente em benefícios, treinamento e políticas de RH bem definidas“, afirma a consultora. “Claro que ainda há muito que melhorar, mas hoje o que define uma organização já não é apenas o seu tamanho.“
Por outro lado, o fator remuneração, quase sempre decisivo nas escolhas profissionais, ainda apresenta grande diferença. As grandes companhias seguem remunerando melhor. Mas até mesmo isso está mudando.
Um estudo divulgado pelo Sebrae no início do ano mostrou que, entre os anos 2000 e 2010, o valor médio dos salários pagos pelas micro e pequenas cresceu em média 14,3%. Já a remuneração média das grandes empresas aumentou apenas 4,3%.
Ainda segundo o Sebrae, em 2011 as micro e pequenas empresas foram responsáveis por 85% dos postos de trabalhos criados na economia. Em parte porque, diferentemente das grandes corporações, são menos suscetíveis às crises internacionais.
Mas, para o engenheiro e administrador de empresas Carlos Carnevali Jr., um outro fator também foi fundamental para a mudança: qualidade de vida.
“Nas grandes, processos burocráticos de pouca importância tornam a jornada de trabalho longa e exaustiva. Hoje posso escolher uma manhã da semana para passar com meus filhos. Isso é praticamente inconcebível em uma grande empresa.“