Na atual conjuntura brasileira de economia em retração, as microfranquias despontam como alternativa alheia à crise. Enquanto o governo sobe, desce e dobra metas confusas, o setor segue confiante de que crescerá entre 10% e 15% em 2015. “O franchising é tradicionalmente o último a entrar na crise e o primeiro a sair dela”, diz José Rubens Oliva Rodrigues, diretor de microfranquias da Associação Brasileira de Franchising (ABF). Segundo ele, uma das causas disso é a migração para as franquias das pessoas despejadas do mercado de trabalho.
Quem quer entrar no negócio precisa, porém, ter em mente que franquia não é emprego, o risco faz parte do jogo e saber vender é essencial. “Há cerca de 500 interessados por mês, mas apenas cinco possuem as qualidades necessárias”, afirma.
O modelo atrai por exigir menos dinheiro do que as franquias tradicionais. De acordo com a classificação da ABF, microfranquia é aquela cujo investimento inicial vai até R$ 80 mil. O valor, calculado com base nos números de 2014, representa cerca de três vezes o PIB anual per capita.
O crescimento das microfranquias de 2013 para 2014 foi de 12,8%, sendo que entre as 2.942 redes de franquias no País, 433 possuem modelo micro.
“A grande fonte de renda é o dinheiro sacado do FGTS”, comenta a consultora Cristiane de Paula, da Úniko Consultoria. “Mesmo neste momento de crise tivemos crescimento de 11% no primeiro semestre”, argumenta. “Ao contrário de uma franquia de lanchonete, por exemplo, cujo investimento inicial supera R$ 1 milhão e precisa de equipe, a microfranquia não tem custo de aluguel ou de empregados, já que o franqueado geralmente trabalha sozinho em casa.”O aceno da facilidade, no entanto, muitas vezes acaba por iludir. Cristiane lembra dois erros que o empreendedor iniciante precisa evitar: misturar a conta bancária pessoal com a jurídica e esperar lucros altos já no primeiro ano. “Precisa ser rígido: o caixa da empresa é para gastos com a empresa. E não existem milagres. Alguns chegam achando que vão ganhar 20% logo de cara. Quando digo que a lucratividade média é de 8%, desanimam.”
Consciente dos riscos, Sandro Maeda comprou a franquia INews em maio deste ano. Pagou R$ 18.900 pelo software que reúne notícias especializadas. Os clientes pagam mensalidades de R$ 550 e R$ 3.500. “Não é clipagem. É um agregado de informações essenciais para melhor administrar um negócio”, explica. Faz tudo sozinho: prospecção de vendas, monitoramento, administração e atendimento. Sabe que ainda pode demorar alguns meses até ter lucros. Mas mantém o pé no chão e os custos baixos. “Para trabalhar só preciso de um computador, internet banda larga e uma linha telefônica.”
Se a INews exige dedicação integral, a microfranquia Mr Kids oferece a possibilidade de trabalhar apenas duas vezes por semana abastecendo as máquinas de pequenos brinquedos e doces, geralmente instaladas em shoppings e supermercados. Investimento: R$ 19 mil.
Já a Único Asfaltos é para quem entende do assunto. Afinal, nenhum confeiteiro vai se aventurar a lidar com pavimentações. Investindo R$ 18 mil, anunciam retorno em quatro meses. E ter familiaridade com tatuagens é requisito parar abrir o estúdio Kauai, ainda no projeto.
A Poltrona 1 abusa do conceito de micro. Custa R$ 9.800. Funciona como uma agência de viagens personalizada. Quer investir ainda menos? Aposte na CoalaCar, que exige R$ 6.800 para entrar no ramo de limpeza ecológica de carros. O franqueado nem precisa ter empresa. Basta o registro de MEI (Micro Empreendedor Individual).
“Existem muitas opções. O essencial é ter espírito genuinamente empreendedor”, resume Cristiane de Paula.