SÃO PAULO – Claudio Silva estava de férias quando um vizinho, sabendo de seu conhecimento de marcenaria, pediu que arrumasse a porta de um guarda-roupa. O serviço agradou, o vizinho passou a indicar o trabalho para outros moradores, e os bons rendimentos fizeram o então supervisor de logística desistir do emprego e trabalhar por conta própria. Silva distribuiu cartões, fez cursos no Senai para conhecer mais sobre as áreas de hidráulica e elétrica, e três anos depois não conseguia mais manter em casa sua base de operação. Hoje, passados oito anos, a Marido de Aluguel S.O.S. conta com 25 funcionários, atende cerca de 600 chamados por mês, tem uma filial em Sorocaba (SP), uma loja em um shopping de móveis na capital paulista e se prepara para abrir novas unidades. Metade dos chamados vem de empresas e, em muitos casos, com contrato anual para atendimento. Silva faz parte de um contingente de empreendedores que têm descoberto na terceirização de serviços diversos, como limpeza, conservação de jardins, babás, cuidador de pessoas e reforço escolar, a oportunidade de garantir bons negócios.
Do início informal, o empresário passou a Microempreendedor Individual (MEI), formalização que permitiu ganhar espaço no mercado corporativo. Com o crescimento, teve de mudar e criou uma microempresa. Hoje, para fazer parte da equipe da Marido de Aluguel S.O.S., é preciso ter curso em hidráulica ou elétrica pelo Senai e passar por uma semana de treinamento. Não basta ser especializado em uma ou outra área, o cliente quer chamar um único profissional para fazer pequenos reparos e instalações diversas, afirma Silva. Para os interessados em seguir a mesma trilha, Silva tem dois conselhos: escolher uma área de que goste e para a qual tenha habilidade e estudar. Além da formação técnica, é necessário também acompanhar a legislação, as mudanças de normas. Nos últimos quatro anos, a empresa dele registrou alta de 50% na demanda atribuída ao maior poder aquisitivo e ao crescimento no número de prédios residenciais e de escritórios.
Esse tipo de serviço é pouco explorado no Brasil, diz o diretor de operações da rede de franquias Maria Brasileira, Eduardo Pirré Filho. Criada no ano passado, a Maria Brasileira oferece profissionais de 12 áreas, entre elas: babá, cuidador de idoso, dog walker, jardinagem, lavanderia, passadeiras e bom vizinho, que cuida da casa quando a família viaja. Atualmente são 53 unidades em operação de um total de 92 comercializadas em 22 estados brasileiros. A expectativa é encerrar este ano com 150 unidades vendidas e faturamento de R$ 15 milhões. Cerca de 70% dos atendimentos são para as residências.
Inicialmente, o trabalho pode ser de agenciamento, no qual a franquia recebe para fazer a seleção do profissional. À medida que a demanda aumenta, o franqueado forma uma equipe própria de funcionários registrados em carteira, informa o executivo. No caso da Maria Brasileira, é preciso ter uma sala comercial ou loja e capital de giro de aproximadamente R$ 50 mil. Ser dinâmico, ativo para visitar clientes e divulgar o trabalho é uma das principais características necessárias a quem quer fazer parte da rede.
Outra rede que tem apostado no setor é o grupo Zaiom, que reúne seis redes de microfranquias – quando o investimento necessário é de até R$ 80 mil. Entre elas estão a Home Angels, que se destaca nos cuidados com pessoas, a Dr. Faz Tudo e a Dr. Jardim. O primeiro investimento foi na Tutores, para oferecer reforço escolar. Enquanto preparava o lançamento do novo negócio, os sócios pesquisaram alternativas de microfranquias e, em 2009, surgia o grupo Zaiom. Em 2013, com 470 unidades pelo País, o Zaiom obteve receita de R$ 40 milhões, uma alta de 30% sobre 2012.
Quando começou, muitas das franquias tinham como base a casa do empreendedor, e hoje 65% delas têm sedes comerciais, os sócios consideram melhor para os negócios. “Em casa há muitas interferências. Se está frio ou o trânsito está difícil, o franqueado acaba não saindo”, diz o sócio-diretor do grupo Zaiom, Artur Hipólito.
A opção de não ter uma unidade aberta, trabalhando em casa, no modelo”home based”, impulsionou o crescimento das microfranquias, devido principalmente aos menores custos. Mas duas características pessoais são indispensáveis para obter sucesso com essa escolha: ter muita disciplina e automotivação, alerta Filomena Garcia, sócia da Cherto, consultoria especializada em franquias.
Os serviços em domicílio são os que mais crescem entre as microfranquias hoje, informa o diretor de microfranquias da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Edson Ramuth. “É uma franquia de baixo investimento, a partir de R$ 10 mil, e houve um aumento da classe média que quer ser empresária”, afirma Ramuth.
Por conta própria
Segundo Sandra Fiorentini, consultora do Sebrae-SP, independentemente do porte do negócio a ser montado é preciso primeiro levantar todos os custos, honorários de contadores, instalações físicas, material utilizado e preço da mão de obra que terá de ser contratada. Se a empresa não trabalha como uma agenciadora, que recebe uma taxa para recrutar o profissional, os funcionários devem ser registrados. Existem contratos de trabalho alternativos, com custos menores, ou mesmo contrato de mão de obra temporária por prazo de até 90 dias.
Formalizar o negócio e emitir nota fiscal permite ter um número maior de clientes, inclusive participar de licitações públicas, e possibilita o acesso ao crédito. A formalização poderá ser feita como Microempreendedor Individual (MEI), cujos custos são menores. Para ser MEI, não pode ter sócio, tem que faturar no máximo R$ 60 mil por ano e ter no máximo um funcionário ganhando salário mínimo ou o piso da categoria em que atuar.