Mercado de capitais já dá acesso a médias empresas
Se ingressar na bolsa de valores parece um passo ainda distante, o acesso ao mercado de dívida se torna cada vez mais real para as empresas de médio porte. Já é possível encontrar emissões de debêntures, por exemplo, na casa dos R$ 30 milhões.
Dessa forma, essas empresas conseguem alongar o prazo de vencimento de suas dívidas a custo até menor que uma operação de crédito tradicional. E muitas vezes quem está por trás dessas operações são os bancos de menor porte, que tentam encontrar uma fonte de diversificação de receitas.
Das últimas 50 emissões com esforços restritos registradas, 21 tiveram valor abaixo de R$ 100 milhões, sendo sete delas abaixo da faixa de R$ 50 milhões. Esse tipo de operação acaba sendo o canal de entrada para a empresa de menor porte, porque ela não precisa ser uma companhia aberta, apenas uma sociedade anônima de capital fechado.
A atividade econômica mais aquecida é um dos fatores que ajuda na expansão dessas operações. Isso porque muitas vezes as médias empresas são fornecedoras das grandes empresas, que devem investir mais em 2013. Para abastecer as gigantes, as médias empresas precisam de recursos e o mercado de capitais é uma alternativa.
O banco ABC Brasil é um dos que tem investido nessa área para conquistar novos clientes. O diretor de relações com investidores, Alexandre Sinzato, reconhece que há a ambição da área de mercado de capitais se tornar mais relevante.
No caso do ABC Brasil, as receitas com comissões dessas operações totalizaram R$ 15 milhões em 2012, um crescimento de 3,7% em relação ao anterior. No entanto, é possível destacar o desempenho do último trimestre, que respondeu por quase metade do total.
“Temos a possibilidade de trabalhar com todos os produtos de renda fixa. Vai depender do que o cliente demandar e do tipo de empresa”, explicou.
Uma das empresas que utilizou o ABC Brasil para acessar o mercado de capitais foi a Mineração Caraiba, que tem uma receita anual que não chega a R$ 500 milhões. A mineradora levantou R$ 40 milhões em debêntures por um prazo de três anos. O papel será remunerado a DI mais 2,55% ao ano.
A título de comparação, uma linha de capital de giro acima de um ano tem taxa média de 15% ao ano, segundo o Banco Central.
O sócio diretor da Queluz Investimentos, Nelson Grijó, também acredita na expansão das operações para empresas de menor porte. “Com o mercado de capitais essas companhias conseguem chegar a investidores institucionais, family offices e fundos de crédito”, afirmou.
A Queluz estrutura essas operações. Grijó conta que há duas no forno prontas para sair. No entanto, afirma que para esse grupo de empresas as exigências são maiores.
É necessário muitas vezes a prestação de garantias, como um imóvel ou fazer uma operação lastreada em créditos a receber. Também é observado a fundo a capacidade de geração de caixa da empresa para arcar com a amortização da dívida. Outro ponto é que muitas vezes essas empresas pecam na transparência, o que pode dificultar o acesso ao mercado de capitais.
“É preciso ter balanço auditado, alguma governança e maior nível de transparência.”
Também de olho nesse mercado, recentemente o BI&P – nova denominação para o Indusval – acertou a compra da Voga Empreendimentos e participações, que presta serviços em assessoria financeira.
O banco registrou em 2012 receitas de R$ 26,4 milhões com a prestação de serviços que incluem a estruturação de operações, um crescimento de 32,2%. O Pine, outro banco médio, também tem uma área dedicada a essas operações, incluindo operações de project finance.
Segundo o banco, foram mais de R$ 1 bilhão em operações de renda fixa no ano passado, um crescimento de 21,5%. Isso ajudou as receitas pularem para R$ 61 milhões no ano passado, 306,6% maior que em 2011.