A presidente Dilma Rousseff sancionou ontem, sem vetos, a lei complementar que amplia o Simples Nacional, mais conhecido como Supersimples – sistema de tributação diferenciado para as micro e pequenas empresas que unifica oito impostos em um único boleto e reduz a carga tributária.
Com a atualização da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, cerca de 450 mil empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões poderão ser beneficiadas. Além disso, o Supersimples passa a permitir o ingresso de 142 atividades da área de serviços no regime simplificado de tributação.
A sanção da lei, em Brasília, foi acompanhada por Rogério Amato, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e presidente-interino da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), em cerimônia protagonizada pela presidente e por Guilherme Afif Domingos, ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa.
Com a atualização, o Supersimples passou a estabelecer como critério de adesão o porte e o faturamento da empresa, em vez da atividade exercida. Antes, não podiam participar empresas prestadoras de serviços decorrentes de atividade intelectual, de natureza técnica, científica, desportiva, entre outras. Agora, profissionais como médicos, advogados, jornalistas e várias atividades do setor de serviços passarão a ser contemplados.
Foi estabelecida, ainda, garantia de entrada única e processo integrado para simplificar a abertura e o fechamento de empresas. O governo pretende também, com a criação de um Cadastro Único Nacional, diminuir processos burocráticos aos quais os empresários brasileiros têm de se submeter.
Além disso, será possível dar mais eficiência e velocidade ao processo de abertura e fechamento de empresas e, por meio de um sistema informatizado, será possível garantir a execução de processo único de registro e legalização. Dessa forma, empresas de qualquer porte poderão conseguir, em prazo reduzido, a legalização completa do negócio.
“Chamo esse projeto de universalização do Simples”, resumiu a presidente Dilma Rousseff. “Fica claro que sancionamos o projeto com a incorporação de todas as categorias ao Simples. Agora profissionais como advogados, corretores e fisioterapeutas estão abarcados pela lei.”
Dilma disse que a questão da micro e pequena empresa sempre foi uma das principais preocupações de seu governo, por se tratar de um segmento da economia “que é responsável pela realização de um sonho para as pessoas: ter um negócio e ser o próprio patrão”, disse. “Nossos microempreendedores trarão efeitos muito positivos sobre a sociedade e sobre a economia, nos ajudando a criar o país que todos almejamos, que é o de sermos um país de classe média”, disse a presidente.
“Quando há vontade e uma adequada definição de rumos, boas mudanças acontecem. Isso exige estratégia e prática do diálogo visando à construção de consensos. Foi a única aprovação dessa legislatura por unanimidade. Por isso, podemos dizer que a lei assinada hoje é fruto de um entendimento sobre o que é melhor para o Brasil”, acrescentou.
De acordo com Afif, o novo Simples “é o embrião da reforma tributária”. Durante a cerimônia de sanção no Palácio do Planalto, o ministro lembrou da forma consensual como a matéria foi aprovada pelo Congresso Nacional, o que, segundo ele, demonstra a relevância e a aceitação do tema no País.
Afif argumenta que o novo Simples apenas colocou “o óbvio” em prática. “Mas é fundamental dar sequência a essa prática do óbvio”, disse ao lembrar que em 90 dias estarão prontos os estudos que pretendem rever as tabelas do Simples. O documento final desse estudo será um Projeto de Lei de autoria do Executivo, que será apresentado ao Congresso Nacional. “Vamos montar a proposta de lei a quatro mãos para aperfeiçoar ainda mais o sistema”, disse Afif.
“O Brasil dos brasileiros está melhor do que o Brasil dos economistas. É exatamente esse subterrâneo que está trabalhando na geração de renda. A micro e pequena empresa responde pelo aumento de renda e emprego, e facilitou a vida. Já já seremos 9 milhões de unidades de negócios. Se cada um puder gerar um emprego, serão 9 milhões de empregos. Isso impacta em 28% na taxa de emprego privado e no lucro familiar de 36 milhões de pessoas”, disse o ministro.
Afif destacou que a lei também prevê a criação do cadastro único das pequenas empresas que entrará em vigor a partir do ano que vem. “O Supersimples instituiu o nosso sonho, que é o Cadastro Nacional Único que começa a vigorar a partir de março de 2015 e acaba com a inscrição estadual e municipal.”
A nova lei, observou o ministro, também irá possibilitar a redução do prazo para abertura das pequenas empresas, dos atuais 107 dias, para cinco dias. “Vamos ficar entre os 30 melhores países que descomplicam a vida dos seus cidadãos”, disse Afif. “Se hoje é difícil abrir uma empresa, fechar é impossível. Temos milhões de CNPJ inativos. Vamos baixar na hora o CNPJ. A lei nos dá esse poder. Desvincula débito fiscal de débito da empresa”, acrescentou.
Diretor-presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Luiz Eduardo Barretto lembrou que essa é a quinta reforma do sistema tributário que “melhora o País”. “As micro e pequenas empresas são responsáveis por 27% do PIB; por 52% dos empregos com carteira assinada; e por 40% da massa salarial do País. Portanto não há desenvolvimento se não incluirmos as micro e pequenas empresas na agenda decisiva para o Brasil, visando à competitividade”, disse. Os micro e pequenos empresários interessados em aderir ao Supersimples podem obter informações no site do Sebrae.
Rogério Amato, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), destacou que a atualização do Simples Nacional irá facilitar a atividade empresarial.
“A sanção da nova lei não encerra a luta de todos os que se empenharam até agora, mas é um passo fundamental para que as empresas possam continuar a gerar riquezas, oferecer emprego e renda e contribuir para o aumento do bem-estar da população”, disse Amato, que também é presidente da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) e presidente-interino da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB).
Segundo João Bico de Souza, presidente da Tecnolamp do Brasil e vice da ACSP, com a atualização do regime simplificado “haverá redução de 40% da carga tributária, aumento de arrecadação e geração de novos empregos”. Bico destacou também o novo simples “representa um significativo avanço para o desenvolvimento do empreendedorismo”.
Para Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis de São Paulo (Sescon-SP), o novo Simples Nacional “trará avanços significativos” às micro e pequenas empresas.
Porém, ele acredita que para efetivar os benefícios a essas classes empresariais será preciso que o governo reformule as alíquotas das tabelas do regime simplificado, especialmente o Anexo 6, criado para o setor de serviços e incluso no projeto sancionado.
“Com a aprovação da lei, abre-se a contagem regressiva de 90 dias para que as tabelas sejam revisadas e as entidades do empreendedorismo acompanharão de perto”, comentou o presidente do Sescon-SP. Ainda segundo ele, “se não houver uma mudança expressiva neste Anexo 6, o benefício pode se transformar numa armadilha para o setor de serviços”, disse Approbato.