Empresas deixam de gerar R$ 247 milhões com Copa
A Copa do Mundo de futebol é uma alegria para a maioria dos moradores da região. Mas os empresários, principalmente da indústria e do comércio, têm passado por apuros por causa das incertezas em relação ao futuro que o evento esportivo proporciona. Na prática, o pessimismo, agregado à atividade econômica mais fraca do que em anos anteriores, tem corrompido resultados desde o começo do ano. E a tendência é de continuidade deste cenário até o fim do terceiro trimestre.
Não há dados que possibilitem mensurar o prejuízo, ou a redução de demanda ou produção, em valores monetários, que o setor privado teve de janeiro até hoje. Mas é possível se ter noção, quando se torna nítido o potencial de redução na geração de riquezas do Grande ABC, apenas nas primeiras três partidas da Seleção Brasileira. Se, hipoteticamente, todas as empresas da região pararem por duas horas para cada jogo, para que seus funcionários acompanhem as partidas, mesmo que voltem ao trabalho após esse período, as sete cidades poderiam deixar de acrescentar ao PIB (Produto Interno Bruto) R$ 247,74 milhões. O valor é uma média, tendo em vista que as companhias poderiam compensar horas ou dispensar os empregados durante todo o dia.
O valor estimado pela equipe do Diário considera o PIB da região, publicado pela Fundação Seade, de 2011. Sobre o valor, foi aplicado o iABC (Indicador de Comportamento do PIB do Grande ABC), do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, gerando valor de R$ 82,1 bilhões em riquezas no ano passado.
O montante foi dividido pelo número de dias úteis de 2013, depois fracionado por oito horas. A partir daí, corrigido monetariamente pelo IPC-Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) – o indicador é o mais paralelo à realidade da região, tendo em vista que mostra a variação de preços da Capital, cuja economia está próxima e totalmente interligada ao Grande ABC. Por hora, o potencial de geração de PIB pelas firmas da região é de R$ 41,24 milhões.
“PIB é expressão de geração de riqueza na economia. Valor adicionado. O quanto de riqueza efetiva você gerou na economia. Não é faturamento. Se todas empresas estão paradas, não estão produzindo riquezas”, observa o professor de Economia e coordenador do Observatório Econômico da Metodista, Sandro Maskio.
Diretor do Ciesp de Santo André, Emanuel Teixeira foi além. “E quem vai pagar essa conta? Esse é apenas um resultado de todas as incertezas que se formaram desde o começo do ano”, diz, ao relacionar o atual cenário de queda na demanda da indústria com a economia desacelerada, a Copa do Mundo e, principalmente, a redução na venda de veículos, que afeta as montadoras instaladas na região e reflete diretamente na cadeia industrial do segmento automobilístico.
Conforme análise de conjuntura econômica do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), o pesquisador de Economia Aplicada Vinícius Botelho, os impactos negativos do evento esportivo continuam até o fim de setembro. “Para a Copa do Mundo teremos o efeito de dias úteis, fato que irá forçar a contração do crescimento e dará um mar conjuntural muito ruim para este e para o próximo trimestre”.
Botelho acrescenta ainda, no documento, que diversas políticas e medidas tomadas, em setores diferentes, foram “extremamente contraproducentes”.
Maskio destaca também que a redução da produção de riquezas na região é um “grande problema para o comércio e para a indústria local”. “Essas empresas vivem das vendas. E, com menos PIB, a tendência é vender menos. Impacto direto no faturamento.”
Como consequência, ainda, as firmas que prestam serviços diretos para essas companhias industriais e comerciais também sofrem com menor demanda. A única exceção refere-se àquelas que atuam em ramos que atendem à Copa, caso ínfimo no Grande ABC. “Mesmo assim, esses serviços não compensariam o que o comércio e a indústria podem deixar de faturar, pensando na economia como um todo”, analisa Maskio.
Para o diretor do Ciesp de Diadema, Donizete Duarte da Silva, o que se pode esperar com essa Copa é prejuízo, já que havia a expectativa de que o evento movimentasse a economia nacional, mas isso não está acontecendo. “Existe frustração, os turistas não vieram (pelo menos não para o Grande ABC)”, diz.
(Colaborou Leone Farias)
Emprego é prejudicado por incertezas do empresariado
Os reflexos da falta de confiança dos empresários da indústria na região, como também da redução da demanda e da economia desaquecida, têm gerado resultados negativos no mercado de trabalho do setor e alta volatilidade. Segundo informações da PED ABC (Pesquisa de Emprego e Desemprego do Grande ABC), da Fundação Seade em parceria com o Dieese, na relação entre abril e março, último resultado disponível, houve redução de 14 mil trabalhadores empregados na indústria de transformação.
Em março, na comparação mensal, 5.000 trabalhadores do Grande ABC ingressaram na indústria, na comparação com o mês anterior. Já em fevereiro, também houve a saída de 14 mil funcionários do setor. Em janeiro, período apontado como o início do pessimismo, estimulado pela desaceleração econômica e pelas incertezas em relação ao impacto da Copa do Mundo, a situação foi ainda mais agravante. Cerca de 20 mil pessoas saíram das indústrias de transformação da região.
A PED é uma pesquisa domiciliar e, aproximadamente, 20% do recorte trabalha foram do Grande ABC.