Escrita Contabilidade

Brasil não sabe fazer crédito para MPEs investirem, diz Afif

O Brasil ainda enfrenta problemas na oferta de crédito para investimento em bens de produção voltado às micro e pequenas empresas (MPEs) e aos Microempreendedores Individuais (MEI) e estes recursos podem ser o caminho para o desenvolvimento do país, na opinião do ministro-chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos.

Durante palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) nesta segunda-feira (4), o ministro comentou que a capacidade de obter recursos para investimento em bens de produção é fator indispensável ao sucesso da micro e pequena empresa. “O Brasil deu um salto extraordinário em crédito. Hoje nós descobrimos o caminho do crédito, que foi o que nos tirou da crise de 2008, foi a liberação de crédito para bens de consumo. Só que nós não sabemos fazer crédito de bens de produção”, disse.

Segundo ele, crédito de bens de produção é uma atribuição do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dedicado, de maneira geral, às grandes empresas. Ele destaca que a instituição “tem feito esforços positivos”, mas ainda encontra dificuldade de atingir o pequeno.

“As que mais se formalizaram nos últimos tempos [como MEI] foram as manicures – que se tornaram grandes disseminadoras da hepatite C. Porque elas fervem os seus instrumentos. Elas deveriam ter uma autoclave para esterilizar. Uma autoclave custa R$ 2 mil. Se ela quiser crédito para comprar autoclave, não tem. Mas se ela for nas Casas Bahia comprar uma TV de 40 polegadas por R$ 2 mil, tem até 50 meses para pagar. Porque hoje o crédito está em cima do consumo, não está em cima da produção”, disse.

“Precisamos dar um salto no crédito de investimento de produção, para financiar máquina nova e usada. O sistema financeiro só dá prata a quem tem ouro.” De acordo com Afif Domingos, pesquisas feitas com empregados indicam que mais de 60% sonham em ter seu pequeno negócio. “Se a gente der crédito para esse pessoal, facilitar a vida dele, sai da frente, que o desenvolvimento do Brasil é por este caminho.” Para o ministro, qualquer ação de facilitação da vida do pequeno empreendedor resulta em impacto direto na renda e no emprego. “Você melhora as condições de renda, ele vai buscar um empregado”.

Em sua apresentação, Afif Domigos destacou que o país tem 8 milhões de unidades de negócios. A média de um emprego a mais por micro e pequena empresa significa mais 8 milhões de empregos, com impacto de 25% na taxa de emprego privado do país. Considerando o núcleo familiar, isso produz um impacto positivo sobre 32 milhões de pessoas. “É uma ação pequena que traduz-se num impacto muito forte.” Parte dos esforços, na opinião do ministro, passa por dar mais força à capacidade de produção, mais força à capacidade de vendas e “muito menos força com perda de tempo com burocracia e pagamento de impostos”.

“Hoje, a energia que se gera no Brasil para administrar e pagar imposto e enfrentar burocracia é uma energia em que hoje, o Brasil é considerado um dos países mais complexos do mundo em termos de burocracia. E, à medida que vão estourando os escândalos, nós vamos vendo que nós temos uma burocracia que é biombo da enorme corrupção endêmica existente dentro do poder público”, comentou. Afif Domingos repetiu várias vezes que é preciso diminuir a burocracia e, ao falar sobre o Simples, disse que ele “é o embrião da reforma tributária do Brasil”. “Estejam certos, este é o grande caminho.”

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