Escrita Contabilidade

Crédito é raro para micro e pequenos empresários em Minas Gerais

Levantar capital suficiente para abrir e manter o negócio está entre os principais desafios dos micro e pequenos empresários. Com a atual pressão para corte das taxas de juros, iniciada em abril, o momento nunca foi tão favorável para capitalização de empreendimentos. Nos bancos, o que não faltam são alternativas de crédito para os mais distintos fins. Seja para aquisição de matéria-prima, capital de giro ou financiamento de bens novos e usados. As opções são diversas e os custos também. As facilidades, porém, não alcançam os micro e pequenos que estão ingressando no mercado e sofrem com as exigências para a obtenção de recursos.

Isso porque as linhas de crédito, segundo o vice-presidente de micro e pequena empresa da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marco Antônio Gaspar, são oferecidas, na maioria das vezes, apenas para empresas já constituídas. “Para capitalizar as empresas, os bancos pedem que elas tenham fundação de um a dois anos”, explica. Ainda de acordo com ele, empréstimos com juros de 0,95% ou 0,83% ao mês, por exemplo, são atrativos, mas só são oferecidos para empresas consolidadas. “A dificuldade é muito maior para quem está abrindo seu negócio, porque as financeiras querem se resguardar de possíveis calotes, já que 50% das empresas fecham antes de completar dois anos”, acrescenta.

Raphael Oliveira, proprietário da Retorno Confecções em Montes Claros, no Norte do estado, vê grandes dificuldades em conseguir levantar capital para abrir uma nova loja. “Como tenho menos de seis meses de conta como pessoa jurídica não oferecem mais do que R$ 1 mil”, explica. O gerente da unidade de acesso a serviços financeiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-MG), Alessandro Chaves, alerta para a necessidade de o empreendedor individual ampliar o relacionamento com o banco, como forma de garantir mais benefícios. “A maior parte desses empresários tem conta pessoa física. É preciso demonstrar que tem giro e volume de negócios para abrir novas linhas de crédito”, explica. O indicado é começar a fazer o pagamento dos fornecedores por meio da conta PJ. “Alguns bancos dão a maquininha de cartão para observar o mercado e a movimentação que a empresa tem”, pondera.

Gaspar lembra que existem ainda outras alternativas para que os pequenos driblem as dificuldades. Entre as possibilidades, linhas de crédito como o Proger, que é ofertada pela Caixa Econômica e pelo Banco do Brasil. A opção permite que os empresários se capitalizem e façam investimentos depois de apresentar um amplo plano de negócios, que será avaliado pelo próprio banco credor.

O objetivo é fazer com que as instituições financeiras acreditem no potencial das empresas solicitantes. “Quem deseja tentar esse tipo de crédito, que também tem juros mais baixos, deve procurar ajuda especializada, como no Sebrae, para detalhar seu negócio”, indica. “É preciso apresentar estudo de mercado bem fundamentado, perspectivas, mercado-alvo, modelo de negócio e todas as especificações da empresa para ter mais chances de conseguir os recursos”, garante.

Numa aposta arriscada Bruno Guedes e Janine Rocha, sócios da Drogaria Planalto, também em Montes Claros, optaram por um empréstimo pessoal de R$ 60 mil cada. Hoje, pagam R$ 1,8 mil por mês e devem encerrar o financiamento só daqui a 34 meses, mas não se arrependem da decisão. “Minha mãe hipotecou a casa em que morávamos para comprar a farmácia, mas tem valido a pena. Tentamos achar crédito mais fácil, mas tínhamos urgência em fechar o negócio e precisamos recorrer a esse empréstimo”, lembra.

O vice-presidente de micro e pequena empresa da CDL/BH lembra que essa é uma prática que deve ser banida por quem está começando como empresário. “Um empréstimo pessoal compromete bens como carros e casas e o capital social daquele empresário. Confundir o pessoal com o profissional quando falamos de finanças não é o indicado”, avalia. “É mais interessante que a pessoa economize e dê a largada com capital próprio e que comece de forma módica, sem ideias mirabolantes. Depois, quando conhecer o negócio profundamente, poderá ver se pode ou não arcar com os custos de um empréstimo”, completa.

Definindo o destino do recurso

Para ter certeza de que recorrerá ao produto que melhor se encaixa nas necessidades da empresa, Alessandro Chaves, do Sebrae, aconselha uma análise rigorosa do valor necessário e do fim que será dado ao dinheiro. “É preciso analisar se será para investimento ou capital de giro. Essa é uma decisão que faz diferença”, alerta. Segundo o especialista, quando se trata de capital de giro, além dos custos maiores, os prazos são reduzidos. “Capital de giro deve ser destinado para pagar fornecedores e salário de funcionários, por exemplo. Investimento tem como fim obras ou compra de maquinário. Nesse último caso, conta com carência para começar a pagar”, alerta.

Nas instituições financeiras, as taxas de juros podem variar de 0,94% ao mês para capital de giro, no caso da Caixa, a até 2,35% no Bradesco. No caso de linhas para investimento, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) os custos podem ser reduzidos a 0,9% ao mês, como no caso do BNDES Automático, que conta com carência de 24 meses, o que significa que o pagamento só começa depois de dois anos.

Radamés Pereira e Adriana Carvalho, proprietários da loja de decoração Infatti Interiores, souberam aproveitar as vantagens da linha de investimentos para montagem do showroom. “Utilizamos o Proger do Banco do Brasil, cujo crédito é exclusivamente direcionado para montagem da loja. Vamos começar a pagar em um ano”, comemora.

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