Não estão claros os impactos do aumento da remuneração do trabalho, especialmente o menos qualificado. Pelo lado pessimista, o aumento real nos salários alimenta a inflação. No curto prazo, as empresas assumem o custo com reduções na margem de lucro, mas; no médio prazo, a tendência é que esse custo seja repassado aos preços.
O fenômeno preocupa o Banco Central. Há poucos meses, seu diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, disse que a alta de salários acima da produtividade é insustentável: “O ganho é nulo. Só teremos inflação”.
Pelo lado das empresas, o maior peso da folha salarial também reduz o dinheiro disponível para investir, impactando negativamente no PIB. Pelo lado otimista, espera-se que em algum momento a melhor qualificação comece a aumentar a produtividade do brasileiro. Nesse caso, o impacto no PIB é positivo. Já há discussão sobre por que isso não tem acontecido.
Algumas explicações envolvem a baixa qualidade do incremento na educação –o aumento “nominal” dos anos de instrução não significa um aumento “real” na competitividade– e os entraves competitivos do país, que serviriam de freio a esse potencial.
“Estamos criando um grupo para tentar entender como a renda sobe 8% e o PIB segue parado”, diz o economista Marcelo Neri. “Com dizia Tom Jobim, o Brasil não é para amadores. É complexo.” A produtividade do brasileiro é um quinto da produtividade do americano e está estagnada nesse valor.
Outra consequência positiva é a redução da desigualdade. Em 2012, segundo a Pnad, puxados pelo aumento da renda, 3,5 milhões de pessoas saíram da pobreza. Restam 15,7 milhões –pobreza é renda de até R$ 150 por mês. Mais 1 milhão saiu da extrema pobreza (R$ 75 por mês). Agora, são 6,5 milhões. Por fim, há duas consequências mais ligadas à sociologia e à política.
Com o aumento da instrução, é possível que o país tenha de aprender a lidar com a menor utilização de profissionais pouco qualificados –como no exterior, menos empregados domésticos, frentistas e ascensoristas. Na política, a renda tem impacto eleitoral muito mais direto do que o PIB, que tem consequências no longo prazo, menos perceptíveis pelo eleitor.