Dólar a R$ 2 já preocupa empresas sem proteção
Desde o dia 27, a moeda subiu 9,46% -de R$ 1,81 até R$ 1,99, fechamento de ontem.
O mercado de câmbio teve pouquíssimos negócios ontem com o dólar ameaçando passar de R$ 2. O novo patamar preocupa especialmente empresas importadoras e com compromissos no exterior que não contavam que o dólar subisse tão rápido.
Para evitar perdas com a oscilação do dólar, as empresas compram contratos na BM&FBovespa que funcionam como um seguro.
Se o dólar sobe acima de sua previsão, elas ganham na Bolsa o dinheiro equivalente ao que teriam perdido com a variação cambial indesejada, zerando (ou reduzindo) eventuais prejuízos.
Hoje, as empresas mais expostas são pequenos varejistas, comerciantes, fabricantes de autopeças e máquinas, que têm dificuldades para fazer a um custo baixo essas operações de proteção.
Ontem, só quem tinha urgência para fechar negócio, como empresas com dívidas em dólar vencendo, comprou a moeda americana.
“Como o dólar subiu muito, o mercado trava. Não tem quase nada de negócios. As pessoas estão pensando duas vezes antes de se comprometer com uma taxa dessa”, disse José Roberto Carreira, gerente da Fair Trade.
O dólar chegou a passar de R$ 2 durante a tarde, mas uma expectativa frustrada de que o Banco Central vendesse a moeda fez o preço baixar. Operadores reclamam que as intervenções do BC se tornaram mais imprevisíveis, causando mais estresse do que neutralizando a tensão.
Dólar de Equilíbrio
Para representantes dos exportadores e de setores da indústria, o patamar de R$ 2 ainda não é suficiente.
A associação de exportadores quer o dólar a R$ 2,20 para tornar o país competitivo no exterior. Valor semelhante foi sugerido pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica.
Juro que puxou dólar veio para ficar, diz gestor
“O dólar está voltando a R$ 2 porque o juro caiu”, disse Luis Stuhlberger, o estrelado gestor do fundo Verde do Credit Suisse Hedging-Griffo, que bate o desempenho do mercado desde o fim dos anos 1990.
“Me perguntam se esse juro veio para ficar. Veio e isso não é ruim. Não vamos mais ver juros de 13%.”
“Muitos economistas diziam que o juro real [descontada a inflação] não estava em jogo no câmbio. Esse juro gerou um monstro de capital, que se move. Algum efeito colateral teria sobre o câmbio”, afirmou Stuhlberger.