Dizem que insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Nas empresas, essa “loucura” se manifesta das mais variadas formas: pensar as mesmas coisas, conversar as mesmas coisas, decidir as mesmas coisas, agir sobre as mesmas coisas. E, claro, tal repetição só pode resultar nas mesmas coisas.
Algumas empresas tiveram o ímpeto empreendedor restrito apenas à origem. Tudo o mais foi pura repetição da ideia original. Mudanças em produtos e serviços não passam de variações sobre o mesmo tema. Por isso, empresas com dez, vinte, trinta anos de existência comemoram o primeiro aniversário indefinidamente. Não saem daquela fase inicial. O mesmo ano repetido dez, vinte, trinta vezes.
E por que isso acontece?
Porque alguns líderes querem a mudança, desde que não seja com eles. E a mudança mais revolucionária e inspiradora é justamente aquela que acontece na consciência do líder.
Mudanças cosméticas existem aos montes e para todos os gostos. Aliás, a indústria das ferramentas de gestão vive dessa ilusão, mas tudo será episódico e ineficaz se a principal liderança não compreender que o desafio está em sua forma de olhar – tem de ser diferente da habitual.
Mudança de verdade não se refere a um método de trabalho ou à estratégia de atuação no mercado. No estudo sobre as empresas feitas para durar, Jim Collins e Jerry Porras constataram que os líderes dessas organizações se concentram na construção do empreendimento, em vez de na tentativa de revolucionar o mercado com o lançamento de uma estratégia ou ideia inovadora. A verdadeira mudança é aquela que constrói a cultura da empresa.
Por isso, ferramentas como planejamento estratégico, programas de qualidade, balançoscorecard, avaliação 360 graus costumam resultar em nada enquanto não se altera a forma como as pessoas são vistas dentro (colaboradores) e fora (clientes) da empresa. E essa mudança de olhar tem de partir da liderança.
O modelo de liderança é, portanto, a pedra angular da mudança da cultura.
Amplie a visão e compartilhe decisões
Quanto mais o líder utilizar o poder para controlar as pessoas, menor será sua influência real sobre o trabalho e a própria vida desses colaboradores. Distendendo o poder e o controle, o líder ampliará a sua visão e a de todos, por meio de decisões compartilhadas. À primeira vista, ele poderá ter uma sensação desagradável, de perda de controle. Ou, pior ainda, achar que embora seja responsável por tudo, não tem controle sobre nada.
É fato que escutará coisas que nunca ouviu e que talvez preferiria não saber. Descobrirá, entre seu pessoal e os clientes, alguns que não são aliados, embora dessem tal impressão. Em contrapartida, perceberá que tem aliados em gente que sequer suspeitava. É isso mesmo, as aparências enganam! Como não se deixar enganar? Abrindo os canais de comunicação, promovendo o diálogo, expondo-se e deixando que os outros apresentem seus pontos de vista.
Desanuviar é ajustar as lentes e melhorar a qualidade de percepção. O verdadeiro controle reside exatamente na percepção certa da realidade!
Lidere pelo exemplo
O líder precisa ser a mudança que deseja ver na sua empresa. A epígrafe do texto é uma instigante frase de Gandhi, o Mahatma.
Dizem que, certo dia, uma mulher aproximou-se do grande líder e pediu-lhe que mandasse o seu neto parar de comer açúcar. Gandhi respondeu: “volte na próxima semana”. A mulher retornou conforme a recomendação e, só então, o mestre pediu ao neto dela que deixasse de comer açúcar. Indignada, a mulher perguntou-lhe por que não havia feito essa recomendação na primeira vez. E ouviu como resposta: “porque há uma semana eu também comia açúcar. Não posso mandar outro fazer aquilo que eu não faço”.
Gandhi sabia que a liderança é pelo exemplo. Em cada reunião, em cada decisão, em cada sessão de planejamento ou de avaliação, o líder tem de agir coerentemente, enquanto constrói e cultiva a cultura da empresa. Ele é o principal agente de mudança. Nenhuma tecnologia organizacional tem esse poder.
As pessoas serão influenciadas pelo líder, em todas as circunstâncias: na forma como ele se apresenta, no que diz, nos critérios que adota para tomar as decisões, nas ações que empreende e, fundamentalmente, por suas percepções. E tal influência acontece em qualquer lugar: nas reuniões de equipe, no refeitório, nas andanças pela empresa.
Seja magnânimo
Nas empresas, sempre que começa um novo ano, pensa-se em mudanças. Todos as desejam. A despeito dos planos, métodos, sistemas e estratégias, a verdadeira mudança está em uma nova consciência de liderança. As atitudes e os comportamentos do líder serão os apoios ou os obstáculos mais poderosos à mudança.
A qualidade da empresa depende da habilidade do líder de processar e de usar as informações que recebe. Quanto mais ajustada for a sua compreensão desse mundo, melhor será a qualidade de ação e reação.
Quando uma equipe consegue enfrentar a realidade e dar o melhor de si, é porque encontrou o seu próprio caminho capaz de gerar níveis de energia, paixão, força interior e compromisso emocional. Esse caminho é o da coerência e se inicia a partir da coerência do líder.
Mahatma, do hindu, significa “grande alma”. O equivalente em português émagnânimo (do latim,magnus, que significa grande (;) e animus, alma).Magnânimo é alguém com uma grande alma, que vive e lidera pela coerência.
O melhor investimento que você pode fazer em si, em sua liderança e em sua empresa é ser um líder magnânimo. Tornar-se, de fato, uma grande alma!