O aumento de profissionais com experiência em projetar e construir edifícios sustentáveis e o avanço da produção nacional de materiais para viabilizar as obras diminuiu o custo extra da concepção dos prédios e alavancou este segmento da construção civil no Brasil. Hoje, a maioria dos projetos de edifícios corporativos em São Paulo e no Rio de Janeiro são elaborados sobre preceitos sustentáveis, uma vez que os prédios chancelados por selos específicos de sustentabilidade oferecem maior retorno financeiro aos investidores e aos operadores.
O número de edifícios certificados no Brasil deu um salto de 20 para 497 nos últimos cinco anos, como reflexo de uma demanda cada vez maior do mercado. “O movimento de crescimento é irreversível, até porque a demanda das grandes empresas, que é atendida pelas construtoras, avança cada vez mais e isso é o que vai continuar puxando o segmento, principalmente entre as edificações corporativas”, destacou o diretor de Sustentabilidade do Secov- SP, Hamilton Leite.
Duas certificações contemplam o mercado brasileiro: a americana Leadership in Energy and Environmental Design (Leed) e a francesa batizada em português de Alta Qualidade Ambiental (Aqua-HQE). Juntos, os selos contemplam os quase 500 edifícios chancelados.
De acordo com o consultor de sustentabilidade Luiz Henrique Ferreira, o selo Leed, que atesta a redução do consumo de energia e água em cerca de 30%, se tornou padrão entre as construções corporativas por assegurar maior retorno financeiro aos investidores. “Este certificado, por ser conhecido em todo o mundo, traz segurança para o investidor, pois chancela a concepção de edifícios que oferecem menores custos de operação e maiores taxas de ocupação. A economia de despesas com água e luz reflete na redução do valor do condomínio, o que se traduz em aumento do preço do aluguel e, consequentemente, maior retorno para o investidor”, explicou. A taxa de ocupação de empreendimentos comerciais sustentáveis pode ser até 23% maior em relação aos tradicionais, enquanto o valor da locação é, em média, 8% mais alto, de acordo com informações do Secov-SP.
Redução no custo de construção
Um dos principais fatores que desencadearam essa evolução foi a redução contínua do custo extra dos projetos sustentáveis. Em 2007, quando uma agência do Banco Real, em São Paulo, recebeu pela primeira vez um selo de sustentabilidade no Brasil, o acréscimo no preço da obra foi de 30%. Esse percentual foi caindo até chegar à média atual de 10,5% para incorporadoras que não têm larga experiência com este tipo de construção, as iniciantes. Já para as incorporadoras experientes, o custo extra soma 5,1%, de acordo com dados publicados no livro “Tornando Nosso Ambiente Construído Mais Sustentável”, de autoria do consultor norte-americano Gregory Kats, traduzido para o português pelo Secovi-SP.
A disseminação de informação sobre a prática foi um dos principais elementos que possibilitaram a redução do custo. À medida que os cases de sucesso eram apresentados ao mercado, muitos profissionais da área se interessaram pelo tema e foram buscar capacitação. “O aumento da oferta de mão de obra especializada reduziu o custo das contratações e, por consequência, os desembolsos extra dos projetos, que ficaram mais viáveis”, pontuou Felipe Faria, diretor da Green Building Council (GBC) Brasil, entidade que regula a distribuição do Leed no Brasil. O selo está presente em 192 edifícios – a maior parte corporativos.
Outro fator determinante para a otimização do custo foi o aumento da produção nacional de materiais com tecnologias sustentáveis – como a tinta sem odor, por exemplo. “Ate 2007 tínhamos que importar quase todas as peças e materiais para viabilizar as obras, destacou o diretor da consultoria Sustentech Desenvolvimento Sustentável, Marcos Casado.
Um dos desafios do mercado para a manutenção do crescimento é incentivar a demanda dos selos também no segmento doméstico, de acordo com Leite, do Secov. “Até o primeiro trimestre do ano passado, não existia nenhum edifício residencial pronto certificado no país. Essa disparidade entre corporativo e residencial é um dos desafios a serem vencidos para aumentar a expansão do mercado. Assim como as grandes empresas demandam imóveis sustentáveis, os consumidores também devem replicar o comportamento, principalmente os mais jovens, da geração Y, que têm uma carga grande de informação sobre o tema e vão começar a comprar imóveis nos próximos anos”, prevê Leite.
Imóveis residenciais
Enquanto o Leed ganha espaço entre os empreendimentos corporativos, o selo batizado de Alta Qualidade Ambiental (Aqua-HQE), versão adaptada da certificação francesa Démeche HQE, é utilizado largamente para certificar projetos residenciais. Dos 305 edifícios certificados pela Fundação Vanzolini, responsável pela administração do selo no país, 150 são residenciais. Entretanto, a maioria dos projetos ainda está em fase de execução. Ou seja, apenas cinco prédios já estão em operação, sendo testados pelo consumidor final.
“O Aqua é adaptado para o mercado brasileiro e leva em consideração as características culturais e climáticas do país. Isso explica a utilização em prédios residenciais e também em imóveis comerciais de grandes redes de varejo, como a Leroy Merlin, por exemplo”,afirmou o coordenador executivo da certificação Aqua, Manuel Carlos Reis Martins, que destaca o crescente interesse das construtoras em certificar empreendimentos residenciais.
“A Even adotou, em 2012, o convênio de empreendedor Aqua, no qual todos os edifícios habitacionais construídos em São Paulo e no Rio de Janeiro serão certificados. A Odebrech também impulsiona a certificação nos segmentos residencial e não residencial, mas atua por unidade de negócio. Cyrela e Gafisa, em ritmo mais reduzido, também já trabalham com empreendimentos chancelados”, pontuou Martins.
Para o consultor Ferreira, a qualidade das construções melhora gradativamente à medida que as construtoras estão cada vez ganhando mais experiência em viabilizar projetos. “O desafio é mostrar para o consumidor final as vantagens de morar em um imóvel sustentável”, afirmou. A opinião é compartilhada por Casado, da Sustentech. “É preciso disseminar o conceito entre os consumidores. Embora o segmento de construção sustentável cresça em uma taxa média anual de 30% no Brasil, ele não representa 4% da construção civil do país. Ainda há muito espaço para evoluir”, disse.