O aumento do imposto sobre operações financeiras (IOF) de 0,38% para 6,38% em cartões pré-pagos em moeda estrangeira no final de dezembro de 2013 afetou drasticamente esse segmento no primeiro semestre de 2014. O volume em cartões pré-pagos em moeda estrangeira caiu 69,9% no período entre janeiro e maio último para US$ 371,7 milhões, contra US$ 1,252 bilhão em igual período do ano passado, segundo dados do Banco Central (BC).
“O alarde sobre a cobrança do IOF foi tão grande em cartões de crédito e pré-pagos que o brasileiro migrou para o dinheiro estrangeiro em espécie e tornou-se alvo de furtos e assaltos em viagens internacionais”, diz o CEO [chefe executivo de operações] da emissora de cartões pré-pagos Agillitas, Roger Ades.
De fato, o volume de moeda estrangeira em espécie cresceu 29,57% para US$ 4,063 bilhões em cinco meses fechados em maio último, ante US$ 3,136 bilhões em idêntico período de 2013, conforme dados do BC.
Na mesma comparação, o volume de câmbio movimentado em cartões de crédito à prazo caiu 3,33%, de US$ 1,252 bilhão para US$ 1,120 bilhão. E o montante movimentado em cartões de crédito à vista [pagos na próxima fatura] recuou 18%, de US$ 542,2 milhões para US$ 444,4 milhões.
“Se a medida como anunciada pelo governo era destinada a aumentar a arrecadação, na realidade, o aumento do IOF provocou uma redução do recolhimento não só em cartões pré-pagos, mas em cartões de crédito. Hoje o setor sofre com o temor que o governo faça uma taxação sobre a venda de moeda [estrangeira] em espécie, o que seria muito ruim pois poderia incentivar o mercado paralelo [ilegal]”, alertou Ades.
Para contornar a queda brusca de 60% em seu segmento de cartões pré-pagos em moeda estrangeiras desde o aumento do IOF e minimizar as demissões que atingiram 80 funcionários, Ades contou que a Agillitas, empresa do mesmo grupo do Banco Rendimento, teve que desenvolver produtos corporativos pré-pagos em reais. “Crescemos entre 40% e 50% em cartões corporativos em reais nesse primeiro semestre. A projeção é crescer dois dígitos por ano nos próximos dez anos”, diz.
Mesmo com essa estratégia, Ades prevê que a Agillitas deve fechar o ano de 2014 com R$ 1,3 bilhão em faturamento bruto, bem abaixo dos R$ 3 bilhões de receitas registradas no ano passado. “A Copa do Mundo ajudou um pouco. Vendemos 15 mil cartões Copa, sendo 5 mil para estrangeiros, o pacote incluía ingresso, hotel e o cartão”, afirmou. A Agillitas é o fornecedor do Comitê Organizador Local (COL) da Fifa.
Do movimento em cartões pré-pagos em moeda estrangeira, Ades informou que entre 60% a 70% são negociados em dólar e os principais destinos turísticos são Orlando, Miami e Nova York, nos Estados Unidos. Entre 20% e 25% dos cartões são emitidos em euros, e o restante principalmente em dólares australianos, voltados para estudantes em intercâmbio. “O estudante não tem como levar dinheiro para todo o período de intercâmbio, por isso leva o pré-pago que pode ser recarregado pela internet. Temos convênios com 5 mil agências de turismo e intercâmbio”, contou.
No segmento de cartões pré-pagos em reais, Ades denunciou que a principal dificuldade enfrentada pelo setor está na cobrança de tarifas dos grandes bancos de varejo para realizar saques em caixas eletrônicos. “Os bancos cobram R$ 5 por um saque com cartão pré-pago, mesmo que o cliente pague R$ 7 não há nenhum lucro, ainda é preciso custear a bandeira [a marca do cartão, ex. Visa ou MasterCard] e os impostos sobre serviços.”
Ades apontou uma contradição no comportamento dos grandes bancos de varejo. “Para turistas estrangeiros, a mesma taxa fica em US$ 1 [R$ 2,20]. No mundo todo, essa taxa custa entre US$ 0,50 e US$ 1”, comparou.