Escrita Contabilidade

Desmitificando o Imposto Territorial Rural – ITR

O Imposto Territorial Rural (ITR) foi criado em 1891 junto com a constituição da época, e tinha como finalidade estimular a produção agropecuária no país, já que nesse período o Brasil estava começando a desbravar suas áreas. A responsabilidade dos estados pela cobrança e administração do imposto foi mantida nas constituições de 1934, 1937, e 1946. Em 1961, o ITR foi transferido aos municípios e, em 1964 com a emenda constitucional nº 10, o imposto passou a ser competência da União. Com a promulgação do Estatuto da Terra em 1964 impôs funções extrafiscais ao imposto que passou em princípio a auxiliar as políticas públicas de desconcentração da terra.

Depois da promulgação do Estatuto da Terra, a cobrança do ITR torna-se responsabilidade do INCRA. Com isso, a finalidade do imposto, que é auxiliar as políticas públicas de descentralização da terra, estava longe de ser alcançada. Assim, o ITR nunca chegou a constituir uma boa fonte de receita e tampouco conseguiu promover as mudanças desejadas no meio rural e tampouco contribui e dificilmente contribuirá para alterar as relações econômica-sociais na agricultura brasileira.

Percebendo isso o Governo Federal resolveu desenhar um novo cenário para o ITR, com a promulgação da constituição de 1988, dizendo que este imposto será fiscalizado e cobrado pelo município que assim optarem, na forma da lei, desde que não implique redução do imposto ou qualquer outra forma de renúncia fiscal.

Na prática não mudou nada, pois o ITR continua sendo um imposto federal, os proprietários rurais continuam enviando anualmente a declaração para a receita federal, a receita federal cria a malha fiscal, porém a única mudança é que essas informações da malha passaram a ser transferida para os municípios fazerem o trabalho de fiscalização, cobrança e lançamento do crédito tributário.

Os munícios de Mato Grosso começaram a fazer o convênio junto à receita federal a partir de 2009. Hoje já temos 120 municípios no Estado de Mato Grosso que aderiram a esse processo, mais só 13 estão habilitados efetivamente para fiscalizar. Isso ocorre porque para o município poder ter acesso as informações do ITR ele tem que disponibilizar um fiscal efetivo do município para fazer um treinamento online dado pela ESAF (Escola Superior de Administração Fazendária) e somente após a conclusão desse treinamento que o município estará habilitado a ter acesso as informações.

Sabemos que a grande celeuma desse novo cenário é que a Receita Federal não dava a importância necessária na fiscalização do ITR, por isso ao longo de todos esses anos o ITR não era devidamente fiscalizado. A Receita Federal preferia fiscalizar outros impostos como o IRRF e deixava o ITR de lado, com isso o ITR passou a ser conhecido como imposto dos 10, pois os proprietários rurais por orientação dos profissionais de contabilidade foram incentivados a omitir nas informações das declarações, para que pudesse pagar o valor mínimo que é de 10 reais.

Tive a oportunidade de rodar o Estado de Mato Grosso num projeto da Famato em parceria com a AMM, o CRC e a Receita Federal, levando informações a todos esses elos envolvidos sobre esse novo cenário do ITR. Voltando dessa rodada, percebi que os proprietários rurais ainda não deram a devida importância a esse imposto. Agora, com os municípios fazendo esse trabalho de fiscalização, os proprietários rurais correm o risco de sofrer no bolso as diferenças dos valores reais pagos na época mais as multas que podem chegar até 225% do valor original.

Outro ponto importante que pude observar é que alguns municípios estão vendo nesse novo cenário a possibilidade de aumentar suas receitas e ainda há alguns que estão vendo nesse imposto, a resolução das dificuldades financeira do município, pois quem aderiu ao convênio recebe 100% do imposto arrecadado.

Uma coisa é certa, os municípios querem arrecadar mais, os proprietários rurais querem pagar menos. Então, fica a pergunta: Será que esse novo cenário não será transformado em uma guerra fiscal? Será que os municípios estão preocupados em arrecadar mais em vez de melhor aplicar esse recurso?

Sair da versão mobile