Nem a desaceleração da inflação oficial em setembro, que pela primeira vez neste ano ficou abaixo de 6% no acumulado de 12 meses, dissuadiu o Banco Central (BC) a elevar, nesta quarta-feira, pela quinta vez seguida a taxa básica de juro, de 9% para 9,5%. O aumento leva o Brasil a ocupar a liderança do juro real (descontada a inflação) entre as principais economias do planeta e indica que a Selic poderá voltar aos dois dígitos ainda em 2013.
Conforme levantamento do site MoneYou com 40 nações, a taxa passou para 3,5%. O Brasil não ocupava a primeira posição desde março de 2012. Iniciada em abril, após a taxa básica permanecer seis meses no menor patamar de sua história, a trajetória de alta visa arrefecer a pressão da alta de preços acentuada pelo aumento dos alimentos no início do ano e agravada pela valorização do dólar a partir de maio. Também indica que o BC está em busca de recuperação de sua credibilidade.
Nesta quarta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas informou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses foi inferior a 6% pela primeira vez no ano – o que foi comemorado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Porém, continua mais próximo do limite do teto (6,5%) do que do centro da meta (4,5%).
– O IPCA permanece em nível arriscado, sob ameaça de ultrapassar o teto da meta se houver choque de preços. O BC tem preferido subir os juros aos poucos do que ter de elevar drasticamente ali adiante – analisa Fernando Parmagnani, economista da Rosenberg & Associados.
A projeção da Rosenberg é de nova elevação de 0,5 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 26 e 27 de novembro, o que levaria o juro básico para 10% – dois dígitos pela primeira vez desde março de 2012. Parmagnani lembra que, embora o câmbio tenha deixado momentaneamente de pressionar a inflação em razão da manutenção dos estímulos concedidos pelo Federal Reserve (Fed), a moeda continua em um patamar mais alto do que no ano passado. E em 2014 poderá voltar a pressionar os preços dos importados, quando o Fed deve reduzir o seu programa de incentivos. Ontem, o presidente Barack Obama anunciou o nome de Janet Yellen para ocupar a direção do Fed.
Economista da LCA Associados, Antônio Madeira afirma que a inflação poderá sofrer mais pressões neste ano, como um eventual reajuste nos preços de combustíveis e de alguns alimentos, como carnes. Para Antônio Correa de Lacerda, professor de economia da PUC-SP, o BC está chegando ao ponto de equilíbrio para inibir novas altas de preços sem segurar o crescimento da economia:
– O juro real está próximo do razoável no país, entre 3% e 3,5%.
Situações que o BC pondera na hora de decidir a respeito da taxa Selic
Para continuar subindo o juro:
Inflação acima do centro da meta
Mesmo tendo caído abaixo de 6% no acumulado de 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) segue distante do centro da meta, de 4,5%. Há margem menor para o país reagir a um eventual choque de preços.
Alta na gasolina
O governo poderá autorizar ainda neste ano um reajuste no preço dos combustíveis, atendendo à pressão da Petrobras. O impacto na inflação seria imediato.
Ganho de credibilidade
A inflação oficial prevista para o próximo ano deve ficar próxima de 6%. Subir mais os juros inibiria as expectativas e evitaria remarcações antecipadas de preços, além de indicar que persegue uma inflação menor no próximo ano.
Para manter o juro estável ou subir só um pouco
Baixo crescimento
A economia deve ter expansão em torno de 2,5% neste e no próximo ano, conforme projeções do mercado financeiro, e o juro elevado impediria a retomada, pois encarece o crédito.
Dólar estabilizado
A chegada de Janet Yellen à presidência do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), reforça a expectativa de que a instituição continuará irrigando, por mais algum tempo, o mercado com dólares, para reforçar a recuperação dos EUA. Como efeito, evita a disparada da moeda em nações emergentes.
Inflação mais comportada
A desaceleração do IPCA pode indicar que a inflação finalmente se distancia do teto da meta (6,5%), o que abriria margem para o BC reduzir o ritmo de alta do juro básico.
Elevação do juro serve para desestimular aumento de preços
Já sufocado por um crescimento previsto para cerca de 2,5% neste e no próximo ano, conforme as previsões na edição mais recente do Boletim Focus, o Produto Interno Bruto (PIB) deve sentir um impacto relativamente pequeno com a nova elevação da taxa básica de juro. Economistas afirmam que este aumento afeta principalmente as expectativas, ou seja, desestimula quem pretende reajustar preços de produtos e serviços por receio que a alta de preços se acelere.
– No Brasil, o crédito direcionado (para uso específico para determinada compra), um dos mais importantes para a economia, é pouco sensível a variações da Selic. Claro que é um vento contra o crescimento, mas não é determinante para que o país cresça mais ou menos – explica Antônio Madeira, economista da LCA Consultores.
Segundo Antônio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP, a nova alta do juro não afeta o dia a dia dos consumidores e o efeito no crédito é pequeno. Fernando Parmagnani, economista da Rosenberg & Associados, analisa que o crescimento menor da economia em razão da sequência de aumentos na taxa Selic é necessário para que a inflação continue abaixo do teto da meta: – A elevação do juro é importante para reduzir expectativas e influências, compensa o efeito que traz no arrefecimento da economia.