Pela primeira vez em 20 anos, o número de brasileiros na classe de renda mais alta do país está maior do que o da mais pobre. Estudo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) mostra que o ano passado terminou com 10,3 milhões pessoas ou 5,2% da população na classe alta-alta, que inclui as famílias com renda per capita mensal acima de R$ 2.555,50, conforme informou o colunista Ancelmo Gois no GLOBO de domingo. Na classe baixa-baixa, que abriga pessoas com renda de até R$ 83,20 por mês, havia 7,97 milhões, ou 4% da população total do país. Em 2011, essas classes tinham praticamente o mesmo tamanho: 4,7% dos brasileiros estavam no topo dessa pirâmide e 4,8%, na base. Quando se olha as últimas décadas, o avanço foi enorme: em 1992, apenas 2,1% da população estavam no grupo de renda mais alta e 15,5% entre aqueles com menores ganhos.
– É uma tendência, um pouco resultado das políticas que estão fazendo com que a pobreza vá desaparecendo do país. No grupo da pobreza extrema, o Bolsa Família foi fundamental. Porém, o que mais contribuiu para a migração das pessoas da renda baixa-baixa para baixa-média ou baixa-alta foi a melhora do mercado de trabalho – diz o economista Manuel Thedim, que elaborou o estudo com base nos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE e usou os critérios de classe e renda adotados pela Secretaria Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República. A SAE divide a população em oito classes.
Ricos ganham 175 vezes mais
O pesquisador ressaltou a importância da valorização do salário mínimo e também a estabilidade econômica, que garantiu melhoras para os trabalhadores de menor renda e também para aqueles com maior qualificação. – O mercado de trabalho ajudou muita gente a migrar para a classe de renda mais alta. A má notícia é que a desigualdade do país continua muito grande: a renda total (salários, aluguéis, benefícios sociais) recebida pelo grupo dos mais ricos é 175 vezes maior do que a dos mais pobres. Em outras palavras, apesar de ser apenas 1,2 ponto percentual maior em termos numéricos, a classe alta detém 30,2% da renda gerada no país, contra apenas 0,2% que fica com grupo dos mais pobres.
– A distribuição de renda no Brasil melhorou bastante, é um sucesso, porém ainda há uma distância muito grande que a gente tem que superar. Corremos uma parte da maratona, mas falta muito – diz Thedim. Apesar de lenta, a melhora na distribuição de renda também aparece nos números. De um ano para o outro, o grupo dos mais ricos ficou 8,3% maior e sua fatia na renda total cresceu um pouco menos: 5,23%. Já o grupo dos mais pobres encolheu 14% e sua fatia na renda, embora ainda muito pequena, se manteve estável.